Como fazer uma boa gestão de sala de aula? Confira algumas dicas dos professores da Escola Valentim Gentil.
Texto de Renan Gouvea
Como fazer uma boa gestão de sala de aula? Por mais que existem inúmeros especialistas e conteúdo em forma de livros, vídeos e outras mídias que possam nos ajudar, não existe uma resposta definitiva sobre o tema. Por isso, é necessária uma reflexão constante acerca do tema para que respostas sejam encontradas. Acerca disso, foi realizada uma ATPCG (Aula de Trabalho Pedagógico em Conjunto - Geral) na Escola Valentim Gentil, onde o Coordenador Geral Renan Gouvea falou sobre o tema e os professores encontraram algumas respostas para possíveis circunstâncias de sala de aula.
O filósofo Ortega y Gasset diz: "Eu sou eu e minha circunstância; se eu não a salvo, não salvo a mim mesmo". A circunstância (tudo aquilo que nos cerca) é nossa outra metade. No caso do professor, a sala de aula é sua outra metade, não um simples objeto exterior. Portanto, é preciso fazer algo por essa outra metade para que, no encontro entre ela e o eu (ou seja, entre a sala de aula e o professor), bons frutos sejam produzidos.
As circunstâncias escolhidas para reflexão na ATPCG foram listadas no site Nova Escola, mas os professores da Escola Valentim Gentil elaboraram suas próprias soluções para tais situações. Dificilmente algum professor não tenha vivido uma dessas circunstâncias. Confira abaixo:
Os estudantes não entendem as orientações.
Quando o aluno não compreende uma orientação, o professor Roberto Landim sugere que o professor refaça as orientações com outras palavras e exemplos. Já a professora Gislene sugeriu que o professor identifique os alunos que compreenderam as orientações para que eles compartilhem suas explicações com outros alunos. O professor Adilson Bordo ressaltou a importância de utilizar outros instrumentos e que o professor esteja aberto a ouvir os pontos de dúvidas dos estudantes.
O aluno só responde quando tem certeza.
"Explicar que errar faz parte do processo" é uma atitude ressaltada pelo professor Roberto. Gislene diz que, em suas aulas, aconselha os alunos a responderem, mesmo que errado, pois é fazendo que se aprende. José Araújo relembra que, sempre que isso ocorre, procura deixar claro para o aluno que não existe a necessidade de acertar sempre que a escola é o lugar certo para o erro, porque a partir dos erros é possível identificar o ponto de partida para ajudá-lo. Rosana Tumiatti reforça a importância de resgatar a confiança do aluno. Já a professora Aline diz que é preciso incentivar o aluno e estimular sua capacidade. Se eles participarem, mesmo errando, "na aula mesmo sanamos as dúvidas", diz a professora Daiana Furla.
Algumas crianças não interagem.
A professora Elizabeth Novello ressaltou a importância do professor andar/circular pela sala para conhecer mais de perto as dificuldades dos alunos. O professor não pode manter uma postura distante e indiferente em relação aos alunos. A professora Aline lembrou do fato de alguns alunos estarem passando por problemas, inclusive fora da Escola, e sugeriu que as Escolas que trabalham com tutoria incentivem o diálogo entre o professor tutor e o aluno para entender melhor suas circunstâncias. Os professores José Araújo e Gislene Baggio reforçam a necessidade de atendimento individual. A PCA (Professora Coordenadora de Área) Daniela Casoni diz que "pode ser que o aluno tenha dificuldade de alfabetização e também falta de conhecimentos específicos". Adilson Bordo sugere "estimular a participação com o reforçamento positivo com base no Behaviorismo, por exemplo. Valorizar as opiniões com elogios e bom humor". A professora Mirele Ferraz apontou para o fato de muitos alunos serem tímidos ou terem medo de "levar bronca" do professor. Por isso, é importante a criação de um ambiente acolhedor em sala de aula.
Há muita conversa durante as aulas.
As professoras Aline e Daniela apontam para o fato de muitos alunos não estarem focados no projeto de vida. O aluno que não está focado em seu projeto de vida tem mais chances de se distrair com conversas paralelas. Portanto, é necessário um diálogo constante sobre o projeto de vida do aluno. A professora Elisângela Fabri diz que "o estudante (que conversa muito) ainda não entendeu qual é sua postura dentro da sala de aula e que seu foco precisa ser a aprendizagem. O aluno precisa ser protagonista da sua própria aprendizagem".
Adilson Bordo aponta para a necessidade de um trabalho conjunto entre os professores, alunos líderes de sala, professores-tutores, gestão e pais e/ou responsáveis. "Estabelecer combinados de boa convivência claros com os alunos é uma boa alternativa", ressalta a professora Elizabeth Novello.
Nem todos são ouvidos no decorrer da aula.
O professor Delvanir Lopes reforça a importância de dar oportunidade a todos. Uma das estratégias utilizadas é variar os alunos nas participações, leituras, atividades, apresentações etc. Adilson aponta a necessidade de organizar uma melhor gestão do tempo e uma ordem na participação dos alunos. Renan ressalta que nem todos precisam falar sempre e que, pelo grande número de alunos em sala de aula, não é fácil ouvir a todos sempre, mas todos, em algum momento, precisam ser ouvidos.
A classe se mostra desmotivada.
De acordo com Gislene, uma das soluções é o uso de metodologias ativas. De acordo com o professor Deva, conversar sobre o problema com a classe também é uma boa alternativa.
Daniela, Aline e Elisângela lembram que existe defasagem de aprendizagem devido à pandemia e isso pode gerar alguma desmotivação. Já Beth aponta para o fato de causas externas à Escola, como problema familiar, meio social conturbado, baixas condições financeiras etc. Portanto, é importante sempre um bom diagnóstico para resolver a questão.
Um aluno termina a tarefa antes dos demais.
Vários professores sugerem colocar o aluno que termina a atividade antes dos demais como um ajudante de outros alunos, incentivando a empatia e a solidariedade. Mirele Carvalho diz que sempre pede "para que eles ajudem os outros colegas". Delvanir Lopes indica oferecer exercícios extras, usar outros recursos e rever o que foi feito.
Adilson e Beth ressaltam que é importante diagnosticar, com o diálogo, se o aluno terminou porque é um aluno avançado (e dar novas atividades) ou se terminou rápido porque respondeu de modo incompleto e desleixado. Cada aluno possui o seu ritmo, porém é necessário verificar se as atividades dos alunos mais rápidos foram realizadas com qualidade.
Alguns estudantes não sabem o conteúdo.
Adilson Bordo diz que é importante "trabalhar a recuperação contínua e ter o apoio dos professores de orientação de estudos, coordenadores e dos pais e/ou responsáveis". Elisângela Fabre lembra da importância das aulas de nivelamento, que são fundamentais para auxiliar.
Beth Novello também convida o professor a refletir sobre como tem realizado suas aulas. "Quando o aluno não aprende o conteúdo, muitas vezes pode ser o método de ensino trabalhado pelo professor. Nesse caso, é necessário diferenciar a metodologia para que o aluno consiga aprender", diz Beth.
A garotada só responde sim e não.
No geral, os professores apontam para a necessidade de estimular os alunos a participar, a expor suas opiniões e pontos de vista. No entanto, Gislene diz que sempre pede para que os alunos justifiquem suas respostas.
Adilson sugere "estimular a leitura de textos dissertativos-argumentativos, artigos de opinião, debates e a utilização de vídeos especializados para melhorar os conhecimentos dos estudantes".
Araújo lembra que "geralmente isso ocorre pelo medo de se expor ou serem julgados pelos colegas. Por isso, trabalho muito a autoestima do aluno".
A classe está muito adiantada.
Os professores Roberto e Adilson sugerem aproveitar a circunstância para aprofundar a matéria. Gislene, no entanto, faz a ressalva de fazer avaliações periódicas para verificar com mais certeza se realmente há um avanço. A retomada de conteúdos também é uma boa alternativa.
Falta tempo para terminar a atividade.
O planejamento é fundamental para uma boa aula: quais recursos serão usados? Quanto tempo será necessário? Mas às vezes há imprevistos e o tempo para acabar uma atividade não é suficiente. Fazer como tarefa é uma alternativa apontada por vários professores. Outros falam sobre a importância do planejamento e do replanejamento contínuos das aulas. Adilson sugere
"continuar a atividade na próxima aula ou "enxugar" a atividade adequando-a ao tempo oferecido". Daiana Furlan reforça que não é adequado deixar o conteúdo sem ser ministrado.
Uma criança se nega a participar da aula.
Adilson Borbo aponta para a necessidade de "dialogar para entender os motivos e utilizar novas metodologias em sala de aula. Realizar um trabalho conjunto com a equipe da Unidade Escolar e com os pais e/ou responsáveis, inclusive com o Conselho Tutelar, se faz necessário". "Respeito o tempo de cada aluno. Geralmente procuro por ajuda dos tutores e da gestão escolar", diz o professor Araújo. No geral, os professores aconselham investigar os motivos. Agir sem saber o motivo pode levar a "remédios equivocados".
Alguns estudantes se desentendem.
A professora Gislene lembra que é importante alinhamento de toda a equipe acerca de como resolver as questões de desentendimento entre alunos. Na Escola Valentim Gentil, os tutores são procurados para ajudar a dialogar com os alunos e, em seguida, a vice-direção. No entanto, os professores também são responsáveis por gerir tais situações. "Tento mediar o conflito e, se fugir do controle, busco ajuda de outros profissionais da Escola", diz a professora Aline. Beth Novello lembra também da importância da prevenção. "Agir previamente é sempre muito útil. No caso de desentendimento, é importante sempre manter a calma, o diálogo e a empatia".
Os agrupamentos não funcionam
Todos sabemos que os agrupamentos produtivos são uma excelente ferramenta em sala de aula. No entanto, podem não funcionar. Nesses casos, Adilson Bordo sugere "tentar novos agrupamentos e novas metodologias de ensino com o apoio dos professores-coordenadores".
Receber orientações antes para qual será a finalidade daquele agrupamento com foco na aprendizagem que será desenvolvida na atividade. As professoras Daniela Casoni, Aline e Elisângela reforçam a importância de oferecer aos alunos as orientações devidas sobre os agrupamentos. "Eles precisam ser orientados no momento para que se desenvolva realmente o que tem que ser feito. Com foco na aprendizagem", diz Elisângela.
A proposta não envolve a turma.
Para buscar propostas envolventes, a professora Gislene sugere que os alunos sejam ouvidos, para que eles proponham uma forma de desenvolver o tema "da maneira deles". Adilson diz que "se a proposta está no Currículo Paulista deve ser cumprida com novas metodologias e materiais diversificados. Dialogar para diagnosticar a opinião e os desejos dos estudantes é fundamental". No geral, os professores apontam sempre para a busca de novas estratégias que dialoguem com a realidade dos alunos.
Você é surpreendido por uma pergunta.
O domínio do conteúdo a ser ensinado é indispensável para todos os professores. No entanto, mesmo os mais bem preparados às vezes são surpreendidos com "perguntas inesperadas". Delvanir Lopes propõe que os professores sugiram pesquisas aos alunos sobre as questões surpreendentes. Adilson Bordo reforça que é importante "valorizar a pergunta e a participação do discente e estimular a pesquisa e o debate sobre a temática da pergunta". O PCG Renan ressalta que não precisamos ter respostas para tudo. É claro que há um básico que todos devemos saber, mas num mundo tão veloz e globalizado, está cada vez mais difícil "ter resposta instantânea para tudo". O que deve ser viva é a disposição do professor para sempre aprender, se atualizar e estar cada vez mais preparado para as diversas situações.
FINALIZANDO
Aqui foram lembradas algumas possíveis circunstâncias, mas muitas outras podem surgir. Portanto, é fundamental sempre a busca pela excelência na gestão de sala de aula. Como diz Goethe, "cada homem tem uma missão de verdade. Onde está uma pupila não está a outra: o que da realidade vê minha pupila, outra não vê. Somos insubstituíveis, somos necessários. Só entre todos os homens chega a ser vivido o humano". Somente outras perspectivas completam a minha individual. A realidade é a convivência dinâmica entre o eu e as coisas que integram a circunstância.
Professores que contribuíram com suas respostas:
- Roberto Antonio Landim
- Gislene Baggio
- Delvanir Lopes
- Adilson Aparecido Bordo
- Mirele Carvalho Ferraz
- José Antonio de Araújo
- Rosana Tumiatti
- Daniela Casoni Amâncio
- Alessandra Aline Benalia
- Elisângela Fabri de Paula
- Elizabeth Aparecida Novello
- Daiana Gonçalves Furlan